A curiosidade de tentar entender o bizarro culto à fama e adoração às celebridades, assim como a tentativa de alcançar o seu estilo de vida sempre foi tema recorrente da sétima arte. Não é de hoje, principalmente em momentos como esses, que as redes sociais possibilitam e facilitam a
exposição pública da vida pessoal, em que questões como narcisismo, obsessão por celebridades e o vazio da fama exerce uma espécie de fascinação sobre os cineastas. Em Bling Ring: A Gangue de Hollywood essa curiosidade nunca ficou tão evidente, tornando - a desde já uma obra provocativa.
Nicki (Emma Watson), Marc (Israel Broussard), Rebecca (Katie Chang), Sam
(Taissa Farmiga) e Chloe (Claire Julian), entre outros jovens de Los
Angeles têm em comum uma vida meio vazia, de pais ausentes, como Laurie
(Leslie Mann), mãe de Nicki, que não tem a menor noção do que as filhas
estão fazendo nas ruas, durante o dia e, pior, durante a noite.
Fascinados pelo mundo glamouroso das celebridades das revistas, como
Paris Hilton, e artistas como Kirsten Dunst, o grupo começa a fazer
pequenos assaltos na casa dessas pessoas, quando descobrem que entrar
nas residências deles não é nada difícil. Cada vez mais empolgados com
"os ganhos", o volume dos saques desperta a atenção das autoridades, que
decidem dar um basta nos crimes dessa garotada sem limites. Baseado em
fatos reais.
Dentre os mais variados diretores que poderiam se atrever a
transportar o fato ocorrido ao cinema, nenhum seria mais apropriado do
que as lentes de Sofia Coppola. A história verídica dos garotos de Los
Angeles aborda temas recorrentes nas obras da cineasta, como narcisismo,
obsessão por celebridades e o vazio da fama, já citados no começo do
texto. Com um roteiro não linear e com uma proposta documental, Sofia
mostra um esforço e uma ousadia, algo que acredito ter
passado batido por parte do público, de tentar observar estes jovens em primeira
mão em busca deste mundo dos imortalizados pela fama, que tanto se distanciam dos
meros mortais. Em uma lente contemplativa e por vezes rápida, em 90
minutos de filme o público acompanha o auge e a queda da "gangue", a
diretora vai desenvolvendo cada um dos personagens e vai deixando a
cargo do espectador julgar e entender o que levou aqueles
adolescentes tão "bem" de vida a assaltar as casas de celebridades. Ou
você embarca nas aventuras dos jovens, descritas por uma das personagens
como uma “experiência de vida”, e se deixar por eles seduzir, ou
repudia tudo aquilo que vai sendo jogado na tela, e é aqui que trago o
principal elogio a diretora. Sem medo de expor o quanto a atual geração
valoriza ídolos que tem pouco a dizer, mas muito a ostentar, ela nos
entrega personagens crus, sem nenhuma humanização. Marc, o único que
aparenta sentir remorso dos atos que cometeu junto de seus "amigos",
durante a entrevista se gaba de ter conseguido 800 solicitações de
amizade no Facebook por conta das suas façanhas. Ou seja, uma geração
que valoriza a banalidade, os jovens da geração Facebook, mostrando o
quão escravos estes adolescentes estão das redes sociais, que aqui
serviram como meio de encontrar os integrantes do grupinho. Afinal, de
que adiantaria roubar as casas destas celebridades e não compartilhar
depois?!
O quinteto principal merece elogios. Sofia encontrou jovens desconhecidos e igualmente talentosos para interpretar os integrantes da gangue. Contudo o destaque especial ficar por conta de Israel Broussard e da Emma Watson. O jovem ator, que interpreta o integrante que teve o destino mais amargurado por conta da decepção que teve com a líder do grupo, a quem o rapaz considerava ser sua melhor amiga, quase uma irmã, consegue passar quase que sem problemas o estereotipo de rapaz enrustido e solitário, que acredita não se encaixar em nenhum grupo social. Emma Watson, por outro lado, nos entrega a sua melhor atuação no cinema até agora. Nicki, insuportável, mas extremamente crível, é a imagem perfeita dessa geração mimada, presa a um estilo de vida superficial, no filme responsável pela própria mãe, que instigava suas filhas a viver nessa vida de consumismo e futilidades baseada em uma filosofia bastante questionável do livro "O Segredo". E é neste momento que Sofia nos entrega a única relação subjetiva do filme, ao mostrar o quanto a estrutura familiar, que vem ganhando novas roupagens com o passar dos séculos, possui grande importância na construção de um indivíduo. E a atriz cria de forma brilhante as nuances e os trajetos da sua personagem, que é a principal referência do grupo e desta alienada geração, que tanta deseja o alcance midiático, usando cada segundo em cena para mostrar o quão talentosa a menina sempre mostrou ser.
Assim como em suas obras anteriores, é preciso destacar os aspectos estéticos impressionantes que a fita apresenta. Começando pela trilha sonora acertada, algo que a Sofia consegue em todos os seus filmes, fazendo alusão aos locais frequentados por estes jovens, assim como a fotografia do ótimo Harris Savides (Milk – A Voz da Igualdade) que veio a falecer no ano passado, destacando os figurinos das caríssimas marcas que o grupo tanto desejava, como também a direção de arte primorosa, em especial nas cenas em que o grupinho invadia a casa da celebutard (uma celebridade burra e extravagante), Paris Hilton, que não deixa de ser satirizada pela diretora.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood é uma obra provocativa e audaciosa que causa incômodo nos mais diversos públicos. Escolhendo observar a gangue com imparcialidade, sem se preocupar em encontrar resposta para o comportamento dos jovens, Sofia Coppola zomba da futilidade desta geração que possui o sonho surreal de suas vidas serem baseadas no estilo de vida dessas subcelebridades. Com um final seco, a diretora exibi nos créditos finais uma lista incansável de marcas famosas que foram utilizadas no filme, desafiando o público a se tornarem ou não aquilo que o mesmo busca criticar. Ainda que não supere Encontros e Desencontros, a obra merece ser apreciada, assim como qualquer outra desta excelente diretora.
O quinteto principal merece elogios. Sofia encontrou jovens desconhecidos e igualmente talentosos para interpretar os integrantes da gangue. Contudo o destaque especial ficar por conta de Israel Broussard e da Emma Watson. O jovem ator, que interpreta o integrante que teve o destino mais amargurado por conta da decepção que teve com a líder do grupo, a quem o rapaz considerava ser sua melhor amiga, quase uma irmã, consegue passar quase que sem problemas o estereotipo de rapaz enrustido e solitário, que acredita não se encaixar em nenhum grupo social. Emma Watson, por outro lado, nos entrega a sua melhor atuação no cinema até agora. Nicki, insuportável, mas extremamente crível, é a imagem perfeita dessa geração mimada, presa a um estilo de vida superficial, no filme responsável pela própria mãe, que instigava suas filhas a viver nessa vida de consumismo e futilidades baseada em uma filosofia bastante questionável do livro "O Segredo". E é neste momento que Sofia nos entrega a única relação subjetiva do filme, ao mostrar o quanto a estrutura familiar, que vem ganhando novas roupagens com o passar dos séculos, possui grande importância na construção de um indivíduo. E a atriz cria de forma brilhante as nuances e os trajetos da sua personagem, que é a principal referência do grupo e desta alienada geração, que tanta deseja o alcance midiático, usando cada segundo em cena para mostrar o quão talentosa a menina sempre mostrou ser.
Assim como em suas obras anteriores, é preciso destacar os aspectos estéticos impressionantes que a fita apresenta. Começando pela trilha sonora acertada, algo que a Sofia consegue em todos os seus filmes, fazendo alusão aos locais frequentados por estes jovens, assim como a fotografia do ótimo Harris Savides (Milk – A Voz da Igualdade) que veio a falecer no ano passado, destacando os figurinos das caríssimas marcas que o grupo tanto desejava, como também a direção de arte primorosa, em especial nas cenas em que o grupinho invadia a casa da celebutard (uma celebridade burra e extravagante), Paris Hilton, que não deixa de ser satirizada pela diretora.
Bling Ring: A Gangue de Hollywood é uma obra provocativa e audaciosa que causa incômodo nos mais diversos públicos. Escolhendo observar a gangue com imparcialidade, sem se preocupar em encontrar resposta para o comportamento dos jovens, Sofia Coppola zomba da futilidade desta geração que possui o sonho surreal de suas vidas serem baseadas no estilo de vida dessas subcelebridades. Com um final seco, a diretora exibi nos créditos finais uma lista incansável de marcas famosas que foram utilizadas no filme, desafiando o público a se tornarem ou não aquilo que o mesmo busca criticar. Ainda que não supere Encontros e Desencontros, a obra merece ser apreciada, assim como qualquer outra desta excelente diretora.