Gus Van Sant é um dos poucos diretores, se não o único, que conseguiu transporta de suas lentes para o cinema o universo juvenil americano. Em Elefante, um dos seus mais cultuados e memoráveis trabalho, o diretor vai fundo no universo juvenil ao mostrar o pior lado dessa juventude. Já em Paranoid Park, Van Sant continua tentando mostrar através de suas lentes o universo juvenil, só que dessa vez mostrando seus sentimentos ambíguos e sua solidão, transformando o filme em mais uma, de suas várias obras, que merece ser obrigatoriamente assistida.
Um jovem de 16 anos, Alex, decide ir sozinho a um parque que é o paraíso
dos skatistas (Paranoid Park), onde é chamado para uma "volta de trem"
por Scratch, enquanto os dois se penduram no vagão de um trem, um guarda
da estação tenta afugentá-los com sua lanterna. Alex tenta afugentá-lo
com seu skate, o guarda cai de costas nos trilhos paralelos e é cortado
ao meio por outro trem. Atormentado, Alex tenta se livrar de seu skate e
suas roupas, mas a polícia acaba por descobrir que o acidente fora
causado por um skatista. Aconselhado por uma amiga, Alex escreve uma
carta sobre o incidente, também contando sobre os dias precedentes e
posteriores, a trama segue a carta.
Baseado no livro escrito por Blake Nelson, o filme é narrado
em primeira pessoa, baseado na carta em que o protagonista escreve para aliviar
sua consciência. O que o diretor consegue com isso é contar a história como se
estivéssemos dentro da mente do jovem garoto, como se o expectador realmente
acompanhasse o turbilhão de emoções que se passa na cabeça do protagonista. Uma
cena que marca bem essa reflexão é quando Alex vem andando na ponte e ouvimos
as várias vozes, vozes essas que são as dele mesmo. Alex tenta reconstruir na
carta todos os acontecimentos que se passaram antes e depois do assassinato, e
é através desta carta que podemos e vamos conhecendo um pouco sobre quem é
Alex. Um garoto solitário (os pais geralmente são vistos fora de foco), que está
lidando com a separação de seus pais, que expressa no olhar frio o modo com o
qual parece encarar sua vida. Gosta de passar seu tempo no Paranoid Park, onde
consegue alegrar sua vida medíocre sem emoções, ao invés de curtir adolescência
e o momento ao lado de sua namorada bonita e líder de torcida, mas que é
extremamente chata. Vamos conhecendo este jovem, retrato de muitos jovens
americanos atuais, através de suas confissões embaralhadas que antecederam o
fatídico dia em que o pobre rapaz cometeu o assassinato.
São poucos os diálogos que estão presentes no filme. O diretor não se preocupa em resolver o assassinato, apenas fica claro é que sempre estamos acompanhando e refletindo sobre o vazio e a solidão da juventude norte-americana ou até mesmo da atual juventude que Van Sant parece querer tanto entender. Sua direção mostra como o diretor sempre humaniza de alguma forma seus filmes. Em Elefante, através da sua já conhecida forma lenta de conduzir seus filmes, vamos conhecendo cada vitima dos dois jovens adolescentes. Por mais que seja só para sabermos o que eles faziam na escola no exato momento em que ocorre o massacre, o diretor consegue fazer com que o espectador crie empatia por eles, mesmo que eles não sejam os protagonistas do filme. Em Paranoid Park, Van Sant desenvolve uma intimidade entre Alex e o público usando do mesmo artificio, e utiliza os closes para criar ainda mais intimidade.
Gus Van Sant mais uma vez tenta compreender a nossa atual
juventude, seja a americana ou a de qualquer outro país, cercada cada vez mais
de poucos diálogos, tecnologias e alienação. Arrancado atuações consistentes de
jovens desconhecidos, embalado por uma trilha sonora bastante eclética, que
mistura rap, rock-and-roll e música clássica, e com uma fotografia belíssima, Paranoid
Park é um filme que reflete sobre a desilusão da adolescência, sobre o futuro e
os medos que cercam essa nova geração. Uma obra de arte que requer paciência
para ser acompanhada nos mínimos detalhes.
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