O fim do mundo é um cenário perfeito para criar as mais inusitadas das situações. Mas, curiosamente é pouco explorado no cinema fora do contexto de ficção científica. O novo filme da diretora e roteirista Lorene Scafaria, trabalha o tema através de um ponto de vista intimista, e diferente de Melancolia, de Lars Von Trier, consegue manter um clima leve e descontraído, conciliando-os com o drama e o romantismo que cercam a obra.
Um meteoro está em rota de colisão com a Terra, e a última missão humana
enviada para desviá-lo falha em sua tentativa. Não há mais saída: em
três semanas, o mundo vai acabar. Algumas pessoas aproveitam os últimos
dias de vida para beberem e fazerem sexo sem compromisso; outras se
rebelam pelas ruas e começam a destruir os carros e os comércios. Além
delas, existe Dodge (Steve Carell), corretor solitário que acaba de ser
abandonado pela esposa, e Penny (Keira Knightley), sua vizinha triste,
que nunca teve um namoro satisfatório. Juntos, eles decidem percorrer o
país para reencontrarem suas famílias e seus amores de juventude antes
que seja tarde demais.
A grande reflexão e questionamento que o filme é traz é
sobre como reagiríamos a uma situação como a do fim do mundo. Por mais que já
tenhamos pensado a respeito, é impossível saber qual seria a nossa reação em
tal situação. O filme trata de várias questões, desde as mais fúteis, até as
mais complexas, e sempre conseguindo equilibrá-los entre o drama e o humor
negro. Mas, não se enganem, apesar de ser leve e até descontraído em alguns
momentos, há sempre uma certa melancolia que permeia cada cena da película. A
ideia de filmá-lo com um filme em ritmo de Road Movie foi bem inteligente. A
trama vai se desenvolvendo, mas não fica presa somente aos dois protagonistas.
Conhecem pessoas, lugares diferentes e a partir disso a história vai se
desenvolvendo e os lanços entre esses dois estranhos vai se tornando cada vez
mais forte, o que não deixa de ser uma ironia melancólica, já que ambos moravam
no mesmo prédio, mas nunca sequer chegaram a trocar uma palavra.
Steve Carell é sempre uma aposta acertada em filmes desses
gêneros. O ator tem uma grande facilidade para conseguir arrancar
risadas do publico até nas piadas mais sem graça. Apesar de ser mais
conhecido pelas suas facetas cômicas, Carrel vem fazendo acertadas
escolhas em filmes mais dramáticos e este não fica fora da lista. Como
Dodge, Carrel apresenta uma atuação contida e bem natural, interpretando
um personagem que sempre viveu uma vida calma sem grandes aventuras, um
personagem realista, sarcástico em alguns momentos, assim como também é
melancólico, o que até completa o clima do filme.
Keira Knightley, que sempre é vista em papeis de época e
quando aparece em filmes onde os figurinos de sua personagem não incluem
espartilho causam certo espanto, está com um desempenho excelente. Knightley
interpreta uma personagem sonhadora, romântica e incrivelmente emocional.
Sempre espontânea e histérica, acaba servindo de como contraponto ao estilo
contido do personagem de Steve Carell. Ambos os atores, que jamais pensaria que
dariam certos atuando juntos, apresentam uma excelente e inesperada química,
especialmente por interpretarem personagens tão distintos.
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo apresenta características
novas que agradam aos cinéfilos já acostumados com as mesmices de sempre.
Embalado por músicas indie rock melodioso, o filme merece reconhecimento por
ter abordado um tema como o fim do mundo de forma incrivelmente original. É
filme leve e até descontraído, mas que também é melancólico, ao mesmo tempo em
que é belo e que nos deixa pensando sobre o que realmente é importante.
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