terça-feira, junho 04, 2013

Quando a TV superou o Cinema - Game of Thrones: "The Rains of Castamere"

The North Remembers!


É interessante como cada vez mais a televisão vem crescendo no universo cultural. Séries como Sherlock da BBC, In The Flesh da BBC 3, The Walking Dead da AMC, e séries do acervo do canal HBO vem superando cada vez mais o cinema atual, ao apresentar series com roteiros mais elaborados, uma excelente produção técnica e atores e atrizes desconhecidos, mas que são igualmente ou mais talentosos que aqueles atores e atrizes hollywoodianos. 

Game of Thrones, série de TV produzida pela HBO e baseada nos livros do escritor George R. Martin, mostrou Domingo à noite, 2, ao exibir simultaneamente com os USA o penúltimo episódio da terceira temporada da série, o porquê dessa hegemonia televisiva em relação aos filmes que estão entrando em circuito atualmente.

Quem já acompanhava os livros, ainda na primeira temporada, falou "Oh, espere" quando o personagem Ned Stark teve sua cabeça decapitada, porque eles já sabiam o que iria acontecer na terceira temporada. Mas, se serve de consolo aos que não leram os livros, nem quem já tinha lido ficou imune do mix de emoções e nem do impacto que o episódio, talvez o mais brutal do mundo das séries, apresentou.

"O Casamento Vermelho", que foi retratado no penúltimo episódio desta terceira temporada, é o brutal massacre em que Catelyn Stark (matriarca da família Stark), Robb e Talisa Stark, e seu filho ainda nem nascido, foram cruelmente assassinados pela vingança de Walder Frey e pela traição de Roose Bolton. E como se os eventos ocorridos neste episódio não fossem por si só brutais, ainda teve espaço para mais uma crueldade, ao vê nos olhos e no rosto de uma das personagens mais queridas do livro, Arya Stark, sua esperança de reencontrar o que sobrou de sua família ser destruída. A pequena Stark, que a quase três temporadas e meia estava em busca de sua mãe e de seu irmão mais velho, nunca esteve tão próxima deles quanto neste episódio. E ao presenciar com dor nos olhos e com uma cara de choque a morte do Vento Cinzento, o lobo de seu irmão mais velho, vimos praticamente a aceitação dela de que este encontro nunca mais iria acontecer. Arya, ali, era os nossos olhos e ouvidos.

Como uma grande admiradora da sétima arte foi com alegria e tristeza que assisti a esse episódio. Alegre por ver que a televisão vem apresentado cada vez mais séries e episódios com qualidade superiores que os filmes que estão entrando em cartaz atualmente, e com tristeza por desejar que aquele antigo cinema, com obras como "Um Corpo que Cai" de Alfred Hitchcock, "Táxi Driver" de Martin Scorsese e dentre outros, eram os filmes que estavam entrando no circuito. Claro que ainda hoje existem obras que são soberbas, que não se preocupam somente com o êxito de bilheteria. Filmes de diretores que não veem o cinema como um produto comercial, mas sim cultural. 

É aí aonde entra a obra de Martin, e a série derivada destes livros. Muitos passaram a criticar o escritor, depois que viram três personagens importantes do livro ser mortos, de que ele escreve o livro para "chocar". Algo totalmente equivocado de se dizer. A obra de Martin vai além de seus personagens; sua maior preocupação foi com a história a ser contada, em como fazê-la ser melhor. Nunca foi sobre seus personagens. Isso não quer dizer que ele não os ame claro que ama, mas nunca nenhum deles se tornou ou foi maior do que aquilo que ele queria contar. E é incrível e admirável existir hoje em dia alguém assim, que não tem receio em fazer aqueles personagens que escreveu sofrer ou morrer para que sua obra tivesse um desenvolvimento melhor.

Como se os livros por si só já não fosse bem escritos e rico em detalhes, a série é igualmente excelente, e talvez a melhor sendo exibida atualmente. Os roteiristas apresentaram um roteiro extremamente bem elaborado, com falas afiadas e inesquecíveis. Assim como toda a produção. Tudo técnico estava simplesmente perfeito, do começo da cena até o final, onde o silêncio permeou os créditos finais deste episódio. Mas, o que mais foi memorável neste episódio foi a atuação de Richard Madden, Michelle Fairley e Maisie Williams, respectivamente Robb, Catelyn e Arya Stark. O primeiro teve uma atuação contida e sofrida, que com um último olhar lançado para a mãe resumiu toda a dor que ele passara, não só a física, mas a interna de vê sua esposa e filho mortos em sua frente. Já a Maisie, esta pequena atriz que é um achado da HBO, conseguiu transmitir tudo que sua personagem passou naquela cena. Não tem como assimilar as emoções desta cena e não se colocar no lugar da Arya, e a jovem atriz fez isso perfeitamente. 

Mas, acredito eu que a atuação mais inesquecível será a de Michelle Fairley (foto). Uma performance entorpecente. A personagem da atriz que já tinha perdido seu marido decapitado, que acreditou ter pedido seus filhos mais novos, Bran e Rickon, e que acreditava que suas filhas, Arya e Sansa, eram prisioneiras em Porto Real (e a última realmente era), que com um olhar vazio e junto dele um grito viu o seu primogênito morrer. Naquele momento, Catelyn não tinha mais nada, e a sua morte já tinha vindo antes com o suspiro de Robb, o que aconteceu depois foi apenas um detalhe.

"The Rains of Castamere" entrou para a história das séries não só como o episódio mais brutal exibido na televisão, mas sim por ter sido um episódio rico em detalhes, em roteiro, em produção e principalmente em atuações, que não só apresentou espaço para um dos acontecimentos mais marcantes do mundo literal, mas como também teve espaço, sem se mostrar fora do contexto, para o desenvolvimento de outros três núcleos. Um episódio marcante não só porque mostrou uma guerra sem honra, mas também porque foi a primeira vez que a televisão ensinou ao cinema a como se fazer uma obra de qualidade.

3 comentários:

  1. Incrível como tivemos a mesma impressão sobre o mesmo episódio:

    http://www.facebook.com/gotbr/posts/10151504943913800

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    1. Olá, obrigada pelo comentário :) Achei incrível também, mas acho que todos que amam o cinema devem ter tido essa impressão, assim espero pelo menos.

      Obrigada por deixar o link da sua impressão, e concordo com tudo o que você escreveu, aliás interessante a comparação com "O Poderoso Chefão", não me passou pela mente tal comparação :)

      E como você escreveu "Resta a Hollywood bater palmas para o atual momento da TV(...) E, ainda que o cinema não vença, a atual vitória da TV está sendo uma guerra – dos Tronos – bonita de se ver." Sábias palavras!

      Abraços.

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    2. Sim, Hollywood: menos Homem de Ferro, mais Paul Thomas Anderson! :)

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