sábado, novembro 24, 2012

Crítica: As Vantagens de Ser Invisível (2012)

★★★★★ A adolescência através dos olhos de Stephen Chbosky!

Existe uma lista grande de diretores que gostam de retratar a adolescência através de suas lentes. Alguns gostam de trilhar o caminho da comédia, enquanto outros diretores, em especial Gus VanSant, conseguem transmiti-la em tons minimalistas, sem deixar de mostrar na tela a dureza e o pior lado dessa juventude. Em contrapartida a estes dois polos, temos diretores que conseguem seguir outros caminhos, e mostram que no cinema nem sempre a história é o mais importante, mas sim em como ela é contada.

Charlie (Logan Lerman) é um jovem que tem dificuldades para interagir em sua nova escola. Com os nervos à flor da pele, ele se sente deslocado no ambiente. Seu professor de literatura, no entanto, acredita nele e o vê como um gênio. Mas Charlie continua a pensar pouco de si... até o dia em que dois amigos, Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), passam a andar com ele. 

Um dos primeiros trunfos desta adaptação para as telas do best-seller homônimo escrito e dirigido por Stephen Chbosky, é que não se tem definido em ano a história se passa. Ao falar que esta é uma obra atemporal, chega a ser uma grande sacada não ter sido definido uma época específica ou geração, apenas vamos vendo o amadurecimento destes três jovens, e as incertezas e vantagens da passagem para a vida adulta. O que faz com que muitos expectadores se identifiquem com Charlie, porque existe algo familiar no protagonista. Não estou falando dos problemas mais sérios que envolvem sua vida, mas sim de situações de já ter se encontrado apaixonado pela primeira vez, de tentar conhecer e fazer novas amizades, ou até mesmo somente aproveitar a sua adolescência. Mas, estes são os momentos felizes que fazem parte de um lado da vida de Charlie, e, infelizmente, não são só com elas que acabamos nos identificando. Quem nunca sofreu com os preconceitos de outros colegas, ou sofreu por não fazer parte das famosas "panelinhas" populares que existiam nas escolas? Depois de algumas horas de projeção é através de duas frases (''Nós aceitamos o amor que julgamos merecer'' e "Nós somos infinitos"), que entendemos todo o significado da obra de Chbosky, e o impacto que a mesma causa sobre nós.

A trinca de atores liderados por Logan Lerman é surpreendente. O ator consegue interpretar com delicadeza e sensibilidade o seu personagem. Talvez com a melhor atuação de sua carreira, o ator sabe que Charlie é um personagem difícil não só de interpretar, mas como também de se entender. O menino que exclui-se socialmente, por ser tímido ou por causa de seus traumas, acaba alienando sua própria vida. Ao tornar-se "invisível" perante sua família ou seus amigos pudemos acompanhar sua percepção sobre o mundo que o rodeia, dando ao personagem uma clareza que o ajuda a entender as pessoas que o cercam. Aos poucos vamos ganhando detalhes da vida de Charlie, como o suicídio do amigo, ou os problemas com tia, a quem o garoto considerava ser a única que o entendia, que acabam justificando o comportamento do jovem. Uma jornada emocionante aonde o público vai conhecendo o personagem. E a narração de Charlie em cartas direcionadas ao seu amigo, e a amizade com os dois veteranos tornam o filme uma obra intimista, onde Charlie tem mais proximidade e intimidade com o expectador.

Se Lerman acabou sendo uma grata surpresa, Emma Watson, que ganhou o mundo sendo a eterna Hermione de Harry Potter, por sua vez comprovou que do trio da saga é ela que tem o futuro mais brilhante. Quando Sam aparece em cena, é impossível não se lembrar da atriz pelos corredores de Hogwarts, mas com o tempo vamos esquecendo-se do trabalho mais importante da carreira da atriz. Sam tem reputação de vadia e recebe menos do namorado do que merece. Uma figura traumatizada, mas não amargurada pela vida, e toda essa bagagem da personagem é carregada perfeitamente pela atriz, que além de possuir uma grande química com dois personagens masculinos do filme, acaba entregando uma interpretação delicada, e está adorável no papel.

E por último, mas não menos importante, fechando a trinca de atores, temos uma atuação memorável de Ezra Miller. O ator que surpreendeu a todos com sua interpretação do psicopata Kevin, em Precisamos Falar sobre Kevin, mais uma vez surpreende e revela-se ser uma das grandes revelações do cinema atual. Patrick é gay assumido, e namora um dos astros do esporte do colégio, mas este não assume a relação para os amigos, e nem para o pai. Patrick é um personagem tão complexo quanto Kevin, mas que chega a ser tão diferente quanto. Patrick é leve, carismático e divertido, enquanto Kevin era completamente perturbador, ambos são um oposto do outro, e Miller consegue entregar mais uma atuação primorosa.

Mas, não são só de atuações e personagens memoráveis que fazem de As Vantagens de Ser Invisível uma das melhores produções de 2012. Um dos grandes destaques do filme é a trilha fabulosa escolhida a dedo que passa por The Smiths até Crowded House. O figurino é espetacular, assim como toda a fotografia e cenário do filme. Stephen Chbosky, escritor do livro, foi chamado tanto para escrever o roteiro adaptado quanto para dirigir o filme, faz um trabalho primoroso na tela. Além de conduzir com segurança a trama, o mesmo estrega um roteiro sincero, que respeita os personagens criou. Ninguém conhece melhor os dramas e inseguranças dos personagens do que o próprio Chbosky, e o mesmo tornar a obra, que contém assuntos sérios (consumo de drogas para menores ou até mesmo o suicídio), acessível a todos. 


As Vantagens de Ser Invisível é altamente recomendável. Como foi dito no começo da crítica, o filme segue um caminho diferente, e não procura ser uma película extremista. Ao mesmo tempo em que é um filme simples e sincero, é também duro e devastador. Cada um de nós vem com uma bagagem emocional que vai acabar se identificando com um dos personagens ou com uma das situações, e é por isso que o longa é um daqueles filmes que marcam o público, por se tornar uma obra realista.

domingo, novembro 18, 2012

Crítica: Amanhecer - Parte 2 (2012)

★★ Franquia chega ao fim, e junto dela mais um filme frustrante!

A Saga Crepúsculo, a tão famosa obra de Stephenie Meyer, que segundo ela a inspiração veio num sonho, acabou conquistando fãs ao redor mundo. Finalmente chega a sua tão aguardada conclusão "épica" com Amanhecer - Parte 2, contudo o que surge na tela soa como enrolação e pretexto para que os fãs possam consumir mais outro filme da saga, entregando se não o pior filme, pelo menos entrega o filme mais frustrante.

Após dar a luz a Renesmee (Mackenzie Foy), Bella Swan (Kristen Stewart) desperta vampira. Ela agora precisa aprender a lidar com seus novos poderes, assim como absorver a ideia de que Jake (Taylor Lautner), seu melhor amigo, teve um imprinting com a filha. Devido ao elo existente entre eles, Jake passa a acompanhar com bastante atenção o rápido desenvolvimento de Renesmee, o que faz com que se aproxime cada vez mais dos Cullen. Paralelamente, Aro (Michael Sheen) é informado por Irina (Maggie Grace) da existência de Renesmee e de seus raros poderes. Acreditando que ela seja uma ameaça em potencial para o futuro dos Volturi, ele passa a elaborar um plano para atacar os Cullen e eliminar a garota de uma vez por todas. 

Amanhecer – Parte 2 começa exatamente onde terminou o último filme, e com isso surge o primeiro problema desta conclusão. O sentimento de que o filme foi prolongado além do que deveria, para render dois filmes, causa desconforto. Nos filmes anteriores tinha toda a questão da castidade e uma preocupação da menina não se tornar vampira para aproveitar a sua vida humana, mas se não tem mais estas duas questões a que recorrer, porque prolongar a conclusão da saga? O roteiro, que já não remete mais a estes dois "problemas" que rodearam a vida humana de Bella desde que conheceu Edward, nos entrega diálogos previsíveis, cheios de piadinhas que nadam acrescentam a saga. O que sobra neste filme poderia ter sido concluído em Amanhecer - Parte 1. Outro problema deste capítulo final é o show de vampirinhos que possuem o mesmo DNA mutante dos X-Men. O ponto principal e mais interessante deste último filme são os super-poderes individuais dos vampiros, e o roteiro peca em não explicar, preferindo apenas exibi-los, o que é frustrante, diga-se de passagem. 

Um dos problemas típicos que ainda persistem neste filme são os péssimos efeitos especiais. Questionei seriamente, durante os 110 minutos de projeção, o quão difícil seria escolher atrizes reais para interpretar a filha de Bella até o momento em que a atriz Mackenzie Foy pudesse entrar em cena. Mas, como a ideia não passou pela mente do diretor ou da própria Meyer, que agora atua no cargo de produtora do filme, somos obrigados a assistir meninas digitalmente modificadas para ficarem parecidas facilmente com Foy. Chega a ser um alívio quando a fofinha aparece em cena, ainda que não possua falas. Mas, o pior deste capítulo não é o péssimo e previsível roteiro, seus efeitos especiais, ou a quantidade de atores e atrizes desprovidos de qualquer talento, mas sim o seu desfecho final, que não trata e nem respeita a inteligência de seu público. A conclusão é tão frustrante, que deixa um dos clichês mais antigos do cinema se tornar a pior das ideias inventadas. 

Nem tudo no filme é negativo, uma vez que Kristen Stewart entrega a sua melhor atuação na saga. Stewart, que é uma boa atriz em outros papéis, não conseguia fazer um trabalho competente nos quatro últimos filmes da saga. A sua personagem, em sua fase humana, é muito mal elaborada, então ficava difícil a atriz mostrar um trabalho competente. Mas, neste filme, depois de viver dezoito anos de mediocridade como uma homo sapiens, Bella finalmente encontra a sua razão de viver, e não é passar a eternidade com o seu amado sanguessuga brilhante, mas sim ter sido destinada a ser uma vampira. Ainda como vampira a personagem é todo um retrocesso literário, e não consigo imaginar como tantas meninas a tomam como heroína, sendo que existem tantas outras muito mais inteligentes e com propósito de vida muito melhor, do que passar a eternidade ao lado de seus vampiros luminosos. O que fica aqui é Bella não era a única destinada a ser uma vampira, mas que também estava escrito no destino de Stewart que sua melhor atuação na saga seria também como uma.

Infelizmente o mesmo não pode ser dito por Robert Pattison. O personagem pode até ter sido beneficiado com a Bella vampira, já que Edward se mostra um pouco mais solto e engraçado, reagindo melhor às situações, mas o seu intérprete continua sendo ume péssimo ator. Me surpreende que uma saga, que tem como base os sentimentos no sentido geral da palavra, tenha escolhido dois péssimos atores para ser seus dois protagonistas masculinos. A sua atuação caricata, com a mesma inexpressividade dos quatro longas anteriores e dos demais filmes que o mesmo atua é cansativa. Ainda continuo sem entender como um ator tão ruim consegue papéis em filmes com roteiros interessantes e diretores talentosos. Talvez o diretor ou estúdio o contratem por marketing, uma vez que filmes com seu nome acabam levando expectadores para assisti-los, mas ainda assim não consigo ver isso como marketing positivo, se ao menos sua atuação fosse razoável.

Para completar a trinca de protagonistas da saga de Meyer, temos Taylor Lautner, com o papel mais perturbador da sua carreira. Nesta conclusão épica, Jacob "esquece" o que sentia por Bella, e ativa o modo on da pedofilia ao ter o famoso imprinting por Nessie, a quem chama carinhosamente a filha de Bella, uma garotinha de apenas dez anos de idade. Já é perturbador o bastante vê-lo cheio de cuidados com a menina, mas consegue beirar ao desconforto vê-lo chamando Edward de "papai" depois de descobrir que poderá viver seu grande amor, com quem não possui um terço de química que possuía com Stewart, já que a fofinha viverá por muitos anos. As melhores cenas do ator são nos seus momentos de comédia, em especial quando o Lautner resolve dá uma dos meninos de Magic Mike, e tira suas roupas na frente do pai de Bella, revelando-se ser um lobinho, para assim que Nessie e toda sua família não tenham que se mudar.

Mas, mesmo depois de tanta coisa negativa vista em todos os últimos quatro longas da saga, confesso que esperava que neste filme fosse justificada a presença de Dakota Fanning, o que infelizmente não aconteceu. A atriz não possui falas, exceto a palavra "dor", e quando aparece em cena nada faz, mesmo que sua personagem tenha um dos poderes mais interessante de todos os vampiros com DNA dos X-Men. Poderiam ter escolhido qualquer sub-atriz para dá vida a sua personagem, uma vez que a saga inteira é estrelada por sub-atores e sub-atrizes (exceto Stewart). Entre a sua presença que nada faz, a não ser lembrar que Dakota fez parte da saga, e a atuação de outra qualquer, preferiria outra atriz, assim pouparia a vergonha alheia de assistir uma atriz relativamente com talento em um filme que nada contribui para o cinema. Outra presença que não é justificada na saga é a do ótimo Michael Sheen, que entrega uma atuação ainda mais caricata que a do próprio Pattison, uma pena.

A Saga Crepúsculo finalmente chega a seu capítulo final. Muitos irão fazer uma festa porque não terão mais que vê o trio de personagens na telona, enquanto outros irão chorar por este ter sido o último filme da saga, apesar do mesmo prestar uma homenagem aos seus apaixonados e fieis fãs. Mas, infelizmente o que prevalece nesta conclusão final é apenas mais um filme insatisfatório da saga. E eu ainda estava achando que iria ser tão engraçado quanto a Parte 1.

sexta-feira, novembro 16, 2012

Coluna de DVD - Byousoku 5 Centimeter (Byōsoku Go Senchimētoru, 2007)

★★★★ Quando a distância pode ser devastadora!

Quando pensamos em animações japonesas no cinema logo vem em mente o nome de Hayao Miyazaki, conhecido como um dos grandes gênios por trás deste gênero. Makoto Shinkai pode ser um nome desconhecido para muitos cinéfilos, mas que com Byousoku 5 Centimeter, nos estrega um filme imperdível, da mesma forma que as pérolas de diretores como Miyazaki e outros  profissionais renomados desta área. 

Colegas de turma e amigos muito próximos, Takaki Tono e Akari Shinohara moram em Tóquio. Por conta do trabalho de seu pai, Akari acaba se transferindo de cidade com sua família, e eles passam a manter contato através de cartas. Na medida em que as estações do ano avançam, esse contato vai diminuindo. Quando ela volta para Tóquio, é ele quem deve se mudar. Outras pessoas entram na vida de Takaki, mas ele não esquece Akari e, apesar de todas as separações, pergunta-se a todo momento se um dia terá a chance de encontrá-la novamente.

Cada uma das três partes aborda um momento diferente da vida de Takaki, começando desde a sua infância até a chegada da fase adulta. Os três atos do filme podem ficar conhecidos como a infância, a adolescência e o mundo adulto. O primeiro ato, narrado em off pelas cartas de Akari, fica a cargo de apresentar ao expectador os dois personagens ainda na infância, onde fica claro o forte sentimento entre os dois, notórios desde a época mais inocente. Ao descobrir que Akari teria que se mudar, a vida de Takaki sofre uma grande reviravolta com a notícia de que sua amiga iria se afastar dele. O primeiro capítulo é contado de forma lenta, onde o expectador comtempla o quanto a separação machuca os dois jovens e como a amizade entre ambos era sincera. A primeira parte vai e volta, mostrando a relação deles quando ainda crianças e que continua a evoluir, ainda que por meio de cartas. Muito embora possa ser classificado como um romance, fica claro logo nos primeiros minutos iniciais que no filme existe uma carga dramática forte, mas que é contada de forma sutil, e que não apela para sentimentalismos exagerados.

A segunda parte, que fica conhecida como a adolescência, é focada apenas em Takaki, e o quanto este aliena sua própria vida. Não que o menino seja anti-social ou alguma coisa do tipo, pelo contrário, o rapaz é uma pessoa agradável, e que conversa normalmente com as pessoas a sua volta. Mas, o que parece é que sem Akari em sua vida, ele não possui uma, ainda que o mesmo haja normalmente como os outros adolescentes de sua idade. O sentimento que ele nutre pela Akari continua forte, ainda que este nunca tenha realmente se declarada para sua amiga. A separação emocional do personagem, que sempre parece está em outra dimensão, ou pensando em outra pessoa, deixa claro o quanto ele a aliena, de certa forma, a sua vida. Vivendo apenas por está vivo, sem que nada o completasse. Esse segundo ato serve apenas para mostrar a dificuldade que Takaki tem em lidar com a separação, ainda que não faça nada para ficar junto da sua amada, mesmo sabendo que pertence a ela, independente da distância entre ambos.

Infelizmente é o terceiro e último ato que tira da obra o título de perfeição. Apesar da fase adulta continuar a mostra o quanto Takaki ainda sente dificuldade em lidar com a separação, não havia necessidade desta parte ser apresenta como se fosse um flashback.  O filme, que se caracteriza pelo ritmo contemplativo, acaba pecando ao deixar apenas alguns minutos para fechar o principal arco do filme, que é a vida de Takaki, que continua a viver de forma solitária, ainda que este não a aliene completamente, já que trabalha e se relaciona com outras pessoas. E o que fica claro no final é exatamente isso. Apesar de continuar a seguir com suas vidas, os jovens apaixonados, que nunca puderam viver o seu grande amor, continuam a desejar estarem juntos de alguma forma, ainda que na realidade não seja possível essa união.

O filme, em termos técnicos, é praticamente irretocável. Nada no cenário é desperdiçado ou mal animado. Desde o reflexo do sol nas janelas de prédios e trens até a queda de uma pétala de cerejeira numa poça d'água, o filme apresenta uma qualidade técnica impressionante. Outro destaque da animação é a trilha sonora feita pelo Tenmon, que é primorosa. E vale destacar canção de encerramento "One More Time, One More Chance", que demonstra com perfeição o que deve ter se passado na mente de Takaki durante os sessenta minutos de projeção, e do quão duro é a realidade daqueles que passam ou já passaram por esta situação.

Em Byousoku 5 Centimeter, o grande protagonista é a distância e o quanto ela pode ser extremamente devastadora. Dizer que a animação não vale a pena apenas pelo ato final seria uma grande injustiça da minha parte. Apesar desta não ser a obra-prima máxima de Makoto Shinkai, ela não deixa de ser uma obra imperdível, que elevou o nível de qualidade das animações japonesas.

quarta-feira, novembro 14, 2012

Crítica: A Família Addams: O Musical

★★★★ Da Da Da, Da! Snap Snap! 

No último final de semana estava em São Paulo para assistir ao show da ótima Joss Stone. O show foi fantástico, assim como o desempenho da cantora, que possui cordas vocais deslumbrantes. No entanto como o show ocorreria somente no Domingo à noite, aproveitei a Sexta e o Sábado para fazer um tour cultura pela cidade paulistana. Assisti duas peças e dois filmes que estavam em cartaz, e desejaria ter tido mais tempo para aproveitar a todas opções culturais que a cidade dispõe. Uma das peças que conferi foi A Família Addams: O Musical.

Na trama, o clã liderado por Morticia (papel de Marisa) e Gomez (Boaventura, impagável) passa por um momento de crise. Vandinha (Laura Lobo) arrumou um namorado “normal” e quer marcar um jantar para apresentá-lo aos pais um tanto esquisitos. Adaptação de um espetáculo da Broadway, o musical se torna um "Crepúsculo" às avessas, e segue uma tendência de espetáculos infantis, que contam com piadas voltadas tanto para os adultos quanto para os pequeninos, assim como uma mensagem que pode ser compreendida até para os mais baixinhos. A Família Addams sempre tocou em várias questões sociais importantes, dentre eles, o conceito de uma família "diferente" do padrão que estamos acostumados. Afinal, o que é normal para uma família tradicional, certamente não é para os Addams e vice-versa. E isso fica ainda mais claro quando Mortícia diz para Vandinha: "O que é normal para uma aranha é uma calamidade para a mosca presa na teia. O que então é normal?"

O elenco de primeira liderado por Marisa Orth e Daniel Boaventura como o casal Morticia e Gomez Addams, empolga a platéia do começo ao fim. Um dos pontos fortes do espetáculo fica por conta das atuações incríveis.  O destaque vai para Daniel Boaventura, que além de possuir uma excelente voz, está divertidíssimo como o patriarca da família, e Laura Lobo, que interpreta Vandinha, que também possui uma voz maravilhosa e dá um show como a crescida pestinha da família. 

O cenário é um show a parte. Além de macabro e com uma iluminação belíssima, lembram exatamente ao castelo da série e do desenho. As músicas são divertidas e fáceis de aprender, assim como a coreografia. As piadas foram bem adaptadas para o português, apesar de algumas fazer alusão aos norte americanos.
O clássico dos quadrinhos e da Tv agora no teatro em forma de musical, não poderia ser melhor. A Família Addams: O Musical é obrigatório para quem cresceu com essa família, assim como também é obrigatório para quem procura por uma boa diversão em família. Vale a pena assistir a esse espetáculo e relembrar a família mais esquisita que já tivemos o "desprazer" de conhecer.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Crítica: Frankenweenie 3D

★★★★ Excelente homenagem de Tim Burton aos clássicos do terror!

2012 foi o ano em que algumas animações resolveram prestar homenagens singelas aos clássicos de terror. Algumas não obteriam sucesso, como o Hotel Transilvânia, outras, como Paranorman, tiveram êxito. Frankenweenie, a nova animação de Tim Burton, faz uma bela homenagem às películas de terror dos anos 1930, aliado ao sentimentalismo típico de um diretor apaixonado por cinema.

Victor (Charlie Tahan) adora fazer filmes caseiros de terror, quase sempre estrelados por seu cachorro Sparky. Quando o cão morre atropelado, Victor fica triste e inconformado. Inspirado por uma aula de ciências que teve na escola, onde um professor mostra ser possível estimular os movimentos através da eletricidade, ele constrói uma máquina que permita reviver Sparky. O experimento dá certo, mas o que Victor não esperava era que seu melhor amigo voltasse com hábitos um pouco diferentes. 

A nova animação em stop motion de Tim Burton é uma adaptação de um curta de 1984 do próprio cineasta, rejeitado à época pela Disney, por conter morte com um animal de estimação. Em um momento nostálgico de sua carreira, Frankenweenie é uma comédia dramática e sombria que dialoga especialmente com os espectadores que viveram ou tiveram interesse em conhecer os clássicos de terror da década de 30. A animação é recheada de homenagens aos clássicos monstros de terror desta década. Como por exemplo: Victor e Sparky são uma homenagem ao filme Frankenstein; a cadelinha do filme é uma homenagem a esposa do Frankenstein; o professor Rzykrubki faz referência ao grande ator de filmes de terror, Vicent Price; Edgar homenageia o corcunda dos filmes de terror, e ainda conta com homenagens ao Godzila, vampiros, o Monstro do Lago Negro, Lobisomens e Múmias.

A estética do filme é um deleite à parte. A obra em preto e branco e o stop motion ajudam a dá ao filme um visual marcante, tornando-o um clássico, e mostra que estas duas técnicas ainda merecem muitos anos de vida. À bela trilha de Danny Elfman, é outra homenagem clássica aos filmes de terror. Capaz de levar o drama e a comédia tornando o desenrolar do filme ainda mais divertido e nostálgico. Não sou uma fã declarada do 3D, que virou febre rápido demais, e que somente alguns filmes souberam aproveitar os recursos da técnica. Infelizmente o 3D não foi bem utilizado. Talvez Burton tenha resolvido usar a técnica para atrair as crianças e os jovens, uma vez que esta a sua obra mais difícil de identificar o público do filme.
 
Divertido, emotivo e nostálgico a nova animação de Tim Burton é um filme tanto para os pequenos quanto para seus pais. Uma das melhores animações do ano, que homenageia os grandes clássicos do cinema de horror. Frankenweenie mostra que o cinema precisa e merece de mais obras que se transformam em uma carta de amor a sétima arte.

domingo, novembro 04, 2012

Crítica: Moonrise Kingdom (2012)

★★★★★ Um filme que captura nossas crianças internas! 

Ao assistir o Fantástico Sr. Raposo fiquei surpresa pela forma peculiar em que diretor Wes Anderson conta e dirige seus filmes. Diferente de qualquer diretor, Anderson tem um perfil claramente definido em suas películas, e fica fácil o expectador identificar traços que pertençam ao diretor. Em Moonrise Kingdom, seu mais novo filme, estes traços continuam presentes, entregando se não o melhor trabalho de sua carreira, pelo menos entrega um dos melhores filmes do ano.

Anos 60, em uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra. Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) sentem-se deslocados em meio às pessoas com que convivem. Após se conhecerem em uma peça teatral na qual Suzy atuava, eles passam a trocar cartas regularmente. Um dia, resolvem deixar tudo para trás e fugir juntos. O que não esperavam era que os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton) fizessem todo o possível para reencontrá-los. 


O filme reúne todos os elementos comuns da filmografia do cineasta, como conflitos familiares e existenciais sempre em primeiro plano, apreço visual, uma trilha sonora curiosa e belíssima e um melancólico animado e estranho humor. Os conflitos familiares e existenciais ficam a cargo da família de Suzy, interpretados magistralmente por Bill Murray e Frances McDormand, e pelo capitão da polícia, interpretado de forma tocante por Bruce Willis. Os pais da menina se tratam como doutores e dormem em camas separadas, e acredito que em partes separadas da casa, ordenam sua casa à base de megafone e mal sabem como lidar com os filhos, em especial Suzy. Os pais se amam, mas no fundo já não querem ficar ou nem deveriam ter casado, enquanto o capitão Sharp é impedido de ficar junto de sua amada, que é a mãe da Suzy. O grupo de adultos não gostam da história dos dois fugirem, apesar de fundo sentirem inveja da ousadia e inocência dos jovens apaixonados.

Outro tema habitual de seus filmes é o nascimento do primeiro amor, narrado aqui de forma sincera, encantadora e curiosamente melancólica. A paixão entre os jovens não acontece de forma explosiva como as de hoje em dia, o amor entre eles vai crescendo diante de cartas que ambos trocam, até o dia em que resolvem fugir. Apesar do diretor insinuar, para o público, uma inclinação sexual, na verdade, ela não existe para Sam e Suzy. É interessante ver esta dualidade, que demonstra o quão doce e saudosista a obra de Wes Anderson chega a ser. Suzy é uma menina que sofre de depressão e mudanças bruscas de humor, uma menina que enxerga através de seu binóculo e de seus livros um mundo mais interessante e mágico do que vive, transformando-os em seu refúgio. Kara Hayward consegue transmitir à sua Suzy uma dramaticidade e uma melancolia magnética, definitivamente a menina é o destaque do ano. Sam é um órfão que não possui amigos e que foi renegado pela família adotiva, que tentou buscar no grupo de escoteiros o sentido de companheirismo de uma família. Os jovens apaixonados são dois peixes fora d’ água em seus mundos e acabam encontrando uma identificação um pelo outro, que faz nascer, na verdade, o primeiro amor de ambos. Uma representação da América inocente.  

Além da fotografia belíssima e uma trilha sonora envolvente, o roteiro de Roman Coppola, filho de Francis Coppola, é diferente e deslumbrante. O roteirista entrega aos atores diálogos afiados e interessantes, que contrastam perfeitamente com a sensibilidade que o diretor quis apresentar no filme. 

Moonrise Kingdom é doce, encantador, comovente, imaginativo, divertido, peculiar e lunático. Tudo aquilo que a vida também é. Apesar de parecer bem menos naturalista do que a vida realmente possa ser. O filme é um retrato sincero da ingenuidade e do amor, reforçando ao expectador a principal lembrança de uma época inocente, que infelizmente, não volta mais.

sábado, novembro 03, 2012

Crítica: Magic Mike (2012)

★★ Um filme de strippers, que tenta ser, digamos, mais significativo. 

Steven Soderbergh é um dos mais cultuados cineastas que andam em atividade atualmente. Ver seu nome relacionado a qualquer projeto é quase certeza de que no mínimo será uma experiência interessante. Infelizmente, Magic Mike passa longe disso. Este drama semi-biográfico da vida pregressa do ator Channing Tatum, não passa de uma comédia maçante, com péssimos atores, e com um Soderberg que parece mesmo ter perdido a mão de uns tempos para cá. 

Mike (Channing Tatum) é um experiente stripper, que está ensinando a um jovem a arte de seduzir as mulheres em um palco, de forma a conseguir delas o máximo possível de benefícios. Ao mesmo tempo que em passa seus conhecimentos para Adam (Alex Pettyfer), começa a se interessar pela a irmã dele, Brooke (Cody Horn). Com o tempo, Adam vai se mostrando cada vez mais confiante e deixa o dinheiro fácil subir na cabeça. Começa a lidar com drogas e a ignorar as pessoas próximas, mas ainda assim contará com a apoio de Mike e Brooke.

Apesar de lembrar comédias clássicas dos anos oitenta, que tinham classificam indicativa para maiores, Magic Mike tem climinha de “Sessão da tarde”. O roteiro é frágil e mal escrito, possuindo diálogos terríveis que ficam previsíveis no decorrer da projeção, tentou em alguns momentos fazer o expectador acreditar que por trás do filme com srippers, ele também retratava sobre a recessão que ainda assola os USA. O roteiro também tentou dá ao personagem de Channing Tatum, que aqui revela-se melhor stripper do que ator, alguma profundidade. São dele as frases surradas de para-choque de caminhão ("O que eu faço não é quem sou") e também parte dele a tentativa de criticar a crise financeira que ocorreu no País em 2008/2011, mas que poderia ter ficado subentendida, e não tão detalhada. O filme começa amoralista, tentando fazer quem assisti ao filme não julgue o trabalho dos rapazes, mas no decorrer da projeção vai perdendo o amoralismo, até seu final moralista, de que o amor supera e vence tudo.

O mais legal do filme são as coreografias sensuais do filme. Apesar de Tatum ser, obviamente, o melhor dançarino do grupo, assisti-los é divertido. Infelizmente, junto com o roteiro, os atores coadjuvantes são péssimos, alguns saídos de séries de tv e outro lá que nunca vi antes, se juntam com os inexpressivo Tatum, o sem talento Alex Pettyfer e a igualmente inexpressiva Cody Horn fazendo o filme ser ainda pior do que poderia ser. Matthew McConaughey é o único que parece abraçar seu personagem, apesar de não ser o melhor ator do mundo cinematográfico, mas passa veracidade como canastrão mor.

Magic Mike apenas funciona dentro da proposta der ser um filme para passar o tempo. É lamentável ver Soderbergh envolvido neste tipo filme e até já falam em continuação. Quem procura um filme que não possui tramas rasas, roteiro frágil e péssimos atores, sugiro que passe longe desse filme, enquanto todos torcemos por um filme mais digno do talento de Soderberg.