Quando pensamos em animações japonesas no cinema logo vem em mente o nome de Hayao Miyazaki, conhecido como um dos grandes gênios por trás deste gênero. Makoto Shinkai pode ser um nome desconhecido para muitos cinéfilos, mas que com Byousoku 5 Centimeter, nos estrega um filme imperdível, da mesma forma que as pérolas de diretores como Miyazaki e outros profissionais renomados desta área.
Colegas de turma e amigos muito próximos, Takaki Tono e Akari Shinohara
moram em Tóquio. Por conta do trabalho de seu pai, Akari acaba se
transferindo de cidade com sua família, e eles passam a manter contato
através de cartas. Na medida em que as estações do ano avançam, esse
contato vai diminuindo. Quando ela volta para Tóquio, é ele quem deve se
mudar. Outras pessoas entram na vida de Takaki, mas ele não esquece
Akari e, apesar de todas as separações, pergunta-se a todo momento se um
dia terá a chance de encontrá-la novamente.
Cada uma das três partes aborda um momento diferente da vida de Takaki,
começando desde a sua infância até a chegada da fase adulta. Os três atos do filme podem ficar conhecidos como a infância, a adolescência e o mundo adulto. O primeiro ato, narrado em off pelas cartas de Akari, fica a cargo de apresentar ao expectador os dois personagens ainda na infância, onde fica claro o forte sentimento entre os dois, notórios desde a época mais inocente. Ao descobrir que Akari teria que se mudar, a vida de Takaki sofre uma grande reviravolta com a notícia de que sua amiga iria se afastar dele. O primeiro capítulo é contado de forma lenta, onde o expectador comtempla o quanto a separação machuca os dois jovens e como a amizade entre ambos era sincera. A primeira parte vai e volta, mostrando a relação deles quando ainda crianças e que continua a evoluir, ainda que por meio de cartas. Muito embora possa ser classificado como um romance, fica claro logo nos primeiros minutos iniciais que no filme existe uma carga dramática forte, mas que é contada de forma sutil, e que não apela para sentimentalismos exagerados.
A segunda parte, que fica conhecida como a adolescência, é focada apenas em Takaki, e o quanto este aliena sua própria vida. Não que o menino seja anti-social ou alguma coisa do tipo, pelo contrário, o rapaz é uma pessoa agradável, e que conversa normalmente com as pessoas a sua volta. Mas, o que parece é que sem Akari em sua vida, ele não possui uma, ainda que o mesmo haja normalmente como os outros adolescentes de sua idade. O sentimento que ele nutre pela Akari continua forte, ainda que este nunca tenha realmente se declarada para sua amiga. A separação emocional do personagem, que sempre parece está em outra dimensão, ou pensando em outra pessoa, deixa claro o quanto ele a aliena, de certa forma, a sua vida. Vivendo apenas por está vivo, sem que nada o completasse. Esse segundo ato serve apenas para mostrar a dificuldade que Takaki tem em lidar com a separação, ainda que não faça nada para ficar junto da sua amada, mesmo sabendo que pertence a ela, independente da distância entre ambos.
Infelizmente é o terceiro e último ato que tira da obra o título de perfeição. Apesar da fase adulta continuar a mostra o quanto Takaki ainda sente dificuldade em lidar com a separação, não havia necessidade desta parte ser apresenta como se fosse um flashback. O filme, que se caracteriza pelo ritmo contemplativo, acaba pecando ao deixar apenas alguns minutos para fechar o principal arco do filme, que é a vida de Takaki, que continua a viver de forma solitária, ainda que este não a aliene completamente, já que trabalha e se relaciona com outras pessoas. E o que fica claro no final é exatamente isso. Apesar de continuar a seguir com suas vidas, os jovens apaixonados, que nunca puderam viver o seu grande amor, continuam a desejar estarem juntos de alguma forma, ainda que na realidade não seja possível essa união.
O filme, em termos técnicos, é praticamente irretocável. Nada no cenário é desperdiçado ou mal animado. Desde o reflexo do sol nas janelas de prédios e trens até a queda de uma pétala de cerejeira numa poça d'água, o filme apresenta uma qualidade técnica impressionante. Outro destaque da animação é a trilha sonora feita pelo Tenmon, que é primorosa. E vale destacar canção de encerramento "One More Time, One More Chance", que demonstra com perfeição o que deve ter se passado na mente de Takaki durante os sessenta minutos de projeção, e do quão duro é a realidade daqueles que passam ou já passaram por esta situação.
Em Byousoku 5 Centimeter, o grande protagonista é a distância e o quanto ela pode ser extremamente devastadora. Dizer que a animação não vale a pena apenas pelo ato final seria uma grande injustiça da minha parte. Apesar desta não ser a obra-prima máxima de Makoto Shinkai, ela não deixa de ser uma obra imperdível, que elevou o nível de qualidade das animações japonesas.
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