domingo, novembro 04, 2012

Crítica: Moonrise Kingdom (2012)

★★★★★ Um filme que captura nossas crianças internas! 

Ao assistir o Fantástico Sr. Raposo fiquei surpresa pela forma peculiar em que diretor Wes Anderson conta e dirige seus filmes. Diferente de qualquer diretor, Anderson tem um perfil claramente definido em suas películas, e fica fácil o expectador identificar traços que pertençam ao diretor. Em Moonrise Kingdom, seu mais novo filme, estes traços continuam presentes, entregando se não o melhor trabalho de sua carreira, pelo menos entrega um dos melhores filmes do ano.

Anos 60, em uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra. Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) sentem-se deslocados em meio às pessoas com que convivem. Após se conhecerem em uma peça teatral na qual Suzy atuava, eles passam a trocar cartas regularmente. Um dia, resolvem deixar tudo para trás e fugir juntos. O que não esperavam era que os pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand), o capitão Sharp (Bruce Willis) e o escoteiro-chefe Ward (Edward Norton) fizessem todo o possível para reencontrá-los. 


O filme reúne todos os elementos comuns da filmografia do cineasta, como conflitos familiares e existenciais sempre em primeiro plano, apreço visual, uma trilha sonora curiosa e belíssima e um melancólico animado e estranho humor. Os conflitos familiares e existenciais ficam a cargo da família de Suzy, interpretados magistralmente por Bill Murray e Frances McDormand, e pelo capitão da polícia, interpretado de forma tocante por Bruce Willis. Os pais da menina se tratam como doutores e dormem em camas separadas, e acredito que em partes separadas da casa, ordenam sua casa à base de megafone e mal sabem como lidar com os filhos, em especial Suzy. Os pais se amam, mas no fundo já não querem ficar ou nem deveriam ter casado, enquanto o capitão Sharp é impedido de ficar junto de sua amada, que é a mãe da Suzy. O grupo de adultos não gostam da história dos dois fugirem, apesar de fundo sentirem inveja da ousadia e inocência dos jovens apaixonados.

Outro tema habitual de seus filmes é o nascimento do primeiro amor, narrado aqui de forma sincera, encantadora e curiosamente melancólica. A paixão entre os jovens não acontece de forma explosiva como as de hoje em dia, o amor entre eles vai crescendo diante de cartas que ambos trocam, até o dia em que resolvem fugir. Apesar do diretor insinuar, para o público, uma inclinação sexual, na verdade, ela não existe para Sam e Suzy. É interessante ver esta dualidade, que demonstra o quão doce e saudosista a obra de Wes Anderson chega a ser. Suzy é uma menina que sofre de depressão e mudanças bruscas de humor, uma menina que enxerga através de seu binóculo e de seus livros um mundo mais interessante e mágico do que vive, transformando-os em seu refúgio. Kara Hayward consegue transmitir à sua Suzy uma dramaticidade e uma melancolia magnética, definitivamente a menina é o destaque do ano. Sam é um órfão que não possui amigos e que foi renegado pela família adotiva, que tentou buscar no grupo de escoteiros o sentido de companheirismo de uma família. Os jovens apaixonados são dois peixes fora d’ água em seus mundos e acabam encontrando uma identificação um pelo outro, que faz nascer, na verdade, o primeiro amor de ambos. Uma representação da América inocente.  

Além da fotografia belíssima e uma trilha sonora envolvente, o roteiro de Roman Coppola, filho de Francis Coppola, é diferente e deslumbrante. O roteirista entrega aos atores diálogos afiados e interessantes, que contrastam perfeitamente com a sensibilidade que o diretor quis apresentar no filme. 

Moonrise Kingdom é doce, encantador, comovente, imaginativo, divertido, peculiar e lunático. Tudo aquilo que a vida também é. Apesar de parecer bem menos naturalista do que a vida realmente possa ser. O filme é um retrato sincero da ingenuidade e do amor, reforçando ao expectador a principal lembrança de uma época inocente, que infelizmente, não volta mais.

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