Existe sempre um risco ao se adaptar historias baseadas em fatos reais para o cinema. Afinal, poucos são os filmes deste gênero que não caiem no famigerado dramalhão. O que acontece com O Impossível, do diretor Juan Antonio Bayona, é exatamente esse clichê de um filme-catástrofe, que ao manipular as emoções do público, infelizmente, o torna um filme apelativo, fazendo-o perder sua força.
O casal Maria (Naomi Watts), Henry (Ewan McGregor) e seus filhos tiram férias na
Tailândia, para desfrutar alguns dias no paraíso tropical. Mas, na
manhã de 26 de dezembro, enquanto a família descansa ao redor da
piscina, um rugido apavorante sobe à partir do centro da terra e então
uma enorme parede de água surge em direção à praia. No meio do caos da
tragédia eles se separam. A mãe e o filho mais velho vão enfrentar situações
desesperadoras para se manterem vivos, enquanto em algum outro lugar, o
pai e as duas crianças menores não têm a menor ideia se os outros dois
estão vivos. Nesse momento se inicia uma luta pela
sobrevivência e pela reunião da famíla.
O filme de Bayona não mede esforços para tentar conectar o público com o drama que passa a família protagonista. Em cada cena é uma forma de manipular cada emoção do público, seja com as cenas da mãe e do filho mais velho, ou com falta de música no momento certo e a exagerada trilha musical recheada de violinos em outros, ou até mesmo as cenas das feridas tanto as físicas quanto as psicológicas. Bayona não poupa o espectador em nenhum momento, e esse uso da manipulação narrativa faz com que os olhos dos espectadores fiquem marejados. Apesar de o roteiro tirar quase que todo o brilho da obra, ao torna-la apelativa além do necessário, tecnicamente o filme não faz feio. A reconstrução da onda gigante é surpreendente, e a crueza dos fatos são muito bem caracterizados. A fotografia é linda e a câmera é muito bem conduzida, o que torna ainda mais fácil o público se identificar com o drama do casal.
Certamente a obra seria muito pior se não tivesse em seu elenco três atores competentes como é o caso de Naomi Watts, Ewan McGregor e do jovem ator Tom Holland. Naomi Watts mergulha de corpo e alma no papel de uma mãe que tenta a todo o custo sobreviver e proteger seu primogênito, assim como Ewan McGregor, que se mostra mais amadurecido aqui do que em seus outros papeis. Ambos os atores possuem chances reais e merecidas de receber indicações nas categorias de Melhor Atriz e Ator no Oscar de 2013, em especial Watts, que nos entregou talvez a melhor atuação de sua carreira. Mas, quem rouba mesmo o filme é o jovem ator Tom Holland, que interpreta o filho mais velho. Sua atuação surpreende em um nível tão satisfatório, que se o menino for bem (e precisa) ser trabalhado, estaríamos vendo em breve a versão masculina da jovem atriz Saoirse Ronan. Vale apena ficar de olho nos futuros projetos do jovem ator.
O Impossível é uma mescla de bons e maus momentos. Se o filme peca nas exageradas cenas dramáticas, o mesmo acerta na escolha do elenco, e principalmente nos minutos inicias do filme. Infelizmente a obra termina como um filme-melodrama, que me entristeceu mais pelas pessoas pobres que ficaram para trás quando a família parte em um avião luxuoso, do que pela manipulação do diretor ao fazer o público se emocionar a cada segundo pelo drama sofrido pela família, o que contraditoriamente, acaba por nos afastar da realidade.
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