sábado, janeiro 19, 2013

Crítica: Les Misérables (2013)

★★★ "I had a dream my life would be so different from this hell I'm living!" - Fantine 

Os Miseráveis, clássico romance de Victor Hugo, já foi adaptado diversas vezes. Só no cinema, contando com este novo filme, já foram três adaptações, sendo esta a primeira versão "cantada" da obra francesa. O diretor Tom Hooper, conhecido pelo Discurso do Rei, se inspirou, literalmente, no musical da Broadway e não na eterna obra-prima de Victor Hugo, e foi justamente esta inspiração que tornou seu filme fraco e cansativo, ficando muito aquém do esperado.

Adaptação de musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado em clássica obra do escritor Victor Hugo. Com a França do século XIX como pano de fundo, Os Miseráveis conta uma apaixonante história de sonhos desfeitos, de um amor não correspondido, paixão, sacrifício e redenção, num testemunho intemporal da sobrevivência do espírito humano. Jackman interpreta um ex-prisioneiro, Jean Valjean, perseguido durante décadas pelo cruel polícia Javert, depois de ter quebrado a sua liberdade condicional. Quando Valjean aceita cuidar de Cosette, a filha da operária Fantine, as suas vidas mudam para sempre.

Os trailers eram bonitos e nos deixavam com as expectativas em alta, pois dava a sensação de que iríamos estar perante um espetáculo grandioso. O primeiro choque que sofremos no filme é a direção, que caiu nas mãos de um senhor chamado Tom Hooper, que caiu nas graças de Hollywood depois do mediano O Discurso do Rei. Hooper não tem pompa para fazer um filme como este e isso fica evidente logos nos primeiros minutos do filme. Ele é praticamente uma bagunça. Somos bombardeados de informações cena após cena, que nem da tempo do espectador digerir direito o que está sendo mostrado na tela. Anne Hathaway faz uma transformação de operária para prostituta praticamente de uma cena a outra, o que chega a ser constrangedor. Mas, é justamente da atriz que sai a melhor cena do filme e a melhor atuação, onde sozinha, após a primeira noite de trabalho enquanto prostituta canta uma versão crua e tocante da canção I Dreamed A Dream, tornando a cena deveras íntima e emocional.

O segundo choque são as canção gravadas ao vivo. Em vez de usar a velha tradição de gravar antes o áudio e deixar o ator dublar na hora da filmagem, Hooper decidiu que seria mais "real" se os atores cantassem ao vivo, como se estivessem passando pelo sofrimento do personagem. Teoricamente poderia ter sido uma boa ideia, mas infelizmente quase nenhuma pessoa do elenco tem voz para essa "ideia". Como o filme é literalmente cantado, não existe quase nenhuma conversa, fica difícil ouvir as vozes do elenco, que ficam soterradas por barulhos de armas, pelo coro dos coadjuvantes e outras coisas. A única sequência musical em que esta abordagem ainda funciona é a de Anne Hathaway, uma vez que, como disse antes, ser uma versão crua, íntima e tocante. O ex- Gladiador, Russell Crowe, como Javert, um dos maiores vilões da literatura é sofrível. O ator canta muito baixo e cheio de caras e bocas, e ainda não possui química com Hugh Jackman, que faz o herói Jean Val Jean.

Hugh Jackman é outro que está cantando mal, mas ai tem a desculpa, é que fizeram o ator cantar em um tom diferente, que ele não tem facilidade. Ainda assim, sua atuação não convence por inteiro, e o Globo de Ouro que ganhou não achei merecido, ainda mais depois de vê um atuação ótima do Bradley Cooper (quem mandou ser um galã por tanto tempo, em Cooper?! única explicação de não o terem premiado). Depois de Hathaway, a melhor voz feminina é a da novata Samantha Baks, que faz a  Éponine. Sua versão da música On My Own, é a segunda e última sequência musical que funciona. O resto dos atores nem merecem comentários, porque quase nada fazem de surpreendente para merecerem ser mencionados (Amanda Seyfried, apagadíssima).

O terceiro e último choque é o roteiro. Como o diretor optou por fazer o filme como um musical da Broadway onde tudo é totalmente teatral, quase todos os conflitos levantados não são resolvidos. Muita coisa fica mal desenvolvida, e é frustrante a forma como tantas relevantes problemáticas são levantadas e depois são rapidamente descartadas em detrimento de um romance que nunca é corretamente estabelecido e que nem cria importância no espectador, a não ser que você tenha lido o livro. Carecem aqui explicações, profundidade e desenvolvimento, algo que não é permitido, por causa da opção cansativa de todas as falas serem cantadas.

 
Os Miseráveis de Tom Hooper é fraco. Existem momentos intensos e interessantes, mas nenhum deles com a presença de Anne Hathaway como Fantine, personagem que lhe renderá um Oscar na carreira. Tudo técnico está bem feito e bonito, do figurino até a fotografia, mas infelizmente seu maior atrativo, que seriam as sequências musicais, não são grandiosas e são bastante cansativas. Sendo assim, o musical é a primeira "grande" desilusão de 2013. Não é um desastre por completo, mas ficou muito longe de cumprir com aquilo que prometia.

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