segunda-feira, janeiro 21, 2013

Crítica: O Lado Bom da Vida (2013)

★★★★ Pequena Miss Sunshine de 2013, mas que possui sua própria identidade!
 
O gênero comédia dramática não figura entre os favoritos da Academia. Poucos são filmes deste gênero que estiveram disputando as principais categorias do Oscar, assim como são poucos que caem nas graças do público americano. O novo filme do diretor David O. Russell (O Vencedor), é um desses poucos filmes que além de possuir um elenco talentoso, possui um diferencial inigualável, figurando como um dos melhores do ano.

Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) perdeu absolutamente tudo na vida: sua casa, o emprego e a esposa. Deprimido, ele vai parar em um sanatório, onde fica internado por oito meses. Ao sair, Pat passa a morar com os pais e está decidido a reconstruir sua vida, o que inclui retomar o casamento, passando por cima de todos os problemas que teve. Entretanto, seu novo plano muda por completo quando ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma garota misteriosa que também tem seus problemas. É ela quem consegue fazer com que Pat mais uma vez se reconecte com a vida. 

Baseado na obra de Matthew Quick, e com roteiro assinado por David O. Russell que também o dirige, em O Lado Bom da Vida, o público será levado a sucessão de diálogos rápidos, que refletem a toda "problemática" que gira em torno dos dois personagens principais, Pat e Tiffany, e as suas personalidades. O diferencial do filme é justamente tratar de temas sérios de uma forma bastante divertida, sem nada exagerado. O filme é divertido quando precisa que ser e dramático quando necessário tudo em tons moderados. Outro ponto inteligente do filme é o espaço que O. Russell permite dá a seus atores. Como os diálogos são extremamente rápidos, que exige uma atenção redobrada para captar tudo que é dito pelos personagens, o diretor consegue fazer com que o trabalho dos atores saia de forma muito neutra. Um exemplo disso é a cena da aposta, em que o quarteto divide o quadro, falando todos ao mesmo tempo. Outro que ponto que chama atenção é a são as cenas com câmera na mão, quando Jennifer e Cooper estão correndo, sem serem tremidas demais, ou em planos estáticos e abertos nos inserindo no universo de seus personagens cativantes como observadores.

Acredito que a maior surpresa do filme é a ótima atuação, do até então galã, Bradley Cooper. O ator está afiadíssimo. Todas as cenas em que Pat perde o controle, onde tem um acesso de fúria, onde arremessa o livro Adeus às Armas de Hemingway, pela janela do quarto em plena madrugada, ou em que o ator divide cenas com seus companheiros de cena mais experientes, vemos uma excelente performance de Cooper, que sinceramente, não pensaria que um dia veria. Mas acreditem, ele está convincente e seguro neste papel, que provavelmente é o mais difícil da sua carreira, por enquanto. A química entre Cooper e Lawrence é notável e conseguem fazer o público torcer, fervorosamente, para que esta relação conturbada aconteça.

A grande estrela do filme definitivamente é talentosa Jennifer Lawrence. Não restam dúvidas de que Lawrence caminha a passos largos para tornar-se a melhor atriz de sua geração em Hollywood. Tiffany é tão problemática quanto Pat e por mais que tenham personalidades improváveis, os dois acabam se conectando de algum modo e começam uma amizade meio do avesso. Jennifer brilha completamente no papel da Tiffany. Vide três cenas primorosas e memoráveis dela no filme, no qual ela tem um surto num café local, depois num momento em que ela contracena diretamente numa discussão com Robert De Niro, e finalmente no clímax do filme, que lembra um pouco o clássico independente Pequena Miss Sunshine. É incrível o potencial cênico da atriz de apenas 22 anos, de se admirar realmente.

Fechando o quarteto fantástico que O. Russell reuniu no filme, temos Robert De Niro, que interpreta o pai obsessivo e viciado em apostas do Pat, e a atriz australiana que foi indicada ao Oscar faz dois anos, Jackie Weaver, como sua mãe. De Niro, que há muito não brilhava num filme, faz um trabalho ótimo, assim como a australiana, que surpreendeu a todos com sua atuação em Animal Kingdom. Outro que merece ser mencionado é o Chris Tucker como o amigo psicologicamente instável, mas sempre divertido de Pat. Sempre fugindo da clínica onde está internado e aparecendo nos momentos mais oportunos, rendendo boas risadas.

O Lado Bom da Vida é mais um trabalho louvável do diretor David O. Russell. Em momento algum seu filme se torna mais um clichê do gênero, pelo contrário, O. Russell o revitaliza, ao tornar a sua comédia dramática em algo delicioso e extremamente bem feito, onde a história é toda bem amarrada, prendendo você até o ato final.

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